sexta-feira, 18 de julho de 2008

Como atuar nas dificuldades de acesso ao código escrito

Vicente Martins

O principal desafio dos governos, estabelecimentos de ensino e docentes, no meio escolar, é o de levar o aluno ao aprendizado de leitura, escrita e cálculo. O que deveria ser básico se tornou um desafio aparentemente complexo para os educadores do século XXI: assegurar a aprendizagem escolar.

Por que o domínio básico de lectoescrita se tornou tão desafiador para o sistema de ensino escolar? Por que ensinar a ler não é tão simples? Como desvelar o enigma do acesso ao código escrito?

Em geral, quando nos deparamos com as dificuldades de leitura ou de acesso ao código escrito, esperamos dos especialistas métodos compensatórios para sanar a dificuldade.

Nenhuma dificuldade se vence com método mirabolante. O melhor caminho, no caso da leitura, é o entendimento lingüístico, do fenômeno lingüístico que subjaz ao ato de ler.

Ler é ato de soletrar, de decodificar fonemas representados nas letras, reconhecer as palavras, atribuir-lhes significados ou sentidos, enfim, ler, realmente, não é tão simples como julgam alguns leigos.

O primeiro passo, nessa direção, o de ensinar o aluno a aprender a ler antes para praticar estratégias de leitura depois, em outras palavras, de atuar eficientemente com as dificuldades do acesso ao código escrito, as chamadas dificuldades leitoras ou dislexias pedagógicas, é ensinar o aluno a aprender mais sobre os sons da língua, ou melhor, como a língua se organiza no âmbito da fala ou da escrita.

Quando me refiro à fala, estou me referindo, sobretudo, aos sons da fala, aos fonemas da língua: consoantes, vogais e semivogais.

A leitura, em particular, tem sua problemática agravada por conta de dificuldades de sistematização dos sons da fala por parte da pedagogia ou metodologia de plantão: afinal, qual o melhor método de leitura? O fônico ou o global? Como transformar a leitura em uma habilidade estratégica para o desenvolvimento da capacidade de aprender e de aprendizagem do aluno?

Assim, um ponto inicial a considerar é a perspectiva que temos de leitura no âmbito escolar. Como lingüística, acredito que a perspectiva psicolingüística responde a série de questionamentos sobre o fracasso da leitura na educação básica.

A alma e o papel, o pensamento e a linguagem, a fala e a memória, todos esses componentes têm um papel extraordinário na formação para o leitor proficiente.

Em geral, os docentes não partem, desde o primeiro instante de processo de alfabetização escolar, da fala. A fala recebe um desprezo tremendo da escola e é fácil compreender o porquê: a escrita é marcador de ascensão social ou de emergência de classe social.

A escrita é ideologicamente apontada como sendo superior a fala. A tal ponto podemos considerar essa visão reducionista da linguagem, que quem sabe falar, mas não sabe escrever, na variação culta ou padrão de sua língua, não tem lugar ao sol, não tem reconhecimento de suas potencialidades lingüísticas. Claro, a escrita não é superior a fala nem a fala superior à escrita. Ambas, interdependentes.

As crianças, falantes, chegam à escola para ler, mas primeiro escrevem para ler, lêem para escrever. Outro caminho, se pensarmos em método, é garantir a fala para a leitura: deve-se dar liberdade de falar para garantir uma leitura fluente. Quem não adquire confiança no seu ato de falar, como pode ter fluência no seu ato de ler?

Os professores ditam e as crianças, como escribas, escrevem, escrevem e se tornam copistas. Se pensarmos em método, eis aqui um flagrante fracasso pedagógico com a imposição de tal procedimento: a escrita realmente é ponto de chegada e não de saída no ensino lectoescritor de leitura, escrita e cálculo.

A escola abafa a fala, manancial importantíssimo na formação para leitura e para a expressão oral. A escola paga um preço alto: as crianças deixam de aprender a ler, a escrever e a grafar corretamente as palavras na língua padrão culta.

No final de oito anos de ensino fundamental, encontrar crianças inibidas, acanhadas nos corredores, não tenhamos dúvida, vem muito da interdição da fala, e, conseqüentemente do corpo e da alma. A fala é expressão de nossa alma, do nosso sentimento ou pensamento.

Parte-se da escrita, a ortográfica, e despreza-se um componente importante na compreensão da linguagem, que é fala, ou mais precisamente os sons da fala, os fonemas da língua materna.

Aos três anos de idade, na educação infantil, as crianças já são nativas de sua língua e sabem muito da organização da língua materna, de sua regularidade, de sua estrutura e signos e significados que expressam no cotidiano, a partir da sua própria fala espontânea.

A escolha desconhece essa informação que qualquer manual de psicológica da criança ensina ou, senão, tira-se a conclusão de uma simples observação direta das crianças, sem maiores rigorosos abstratos.

A fala na educação infantil é rico laboratório para os docentes. Por ela, desenvolve-se na criança a percepção auditiva, fundamental para o ensino da leitura. Ensina a perceber é mais importante do que memorizar formas lingüísticas. A verdadeira teoria da linguagem vem do olhar, da observação.

É mais fácil uma criança guardar na memória aquilo que apreende com a percepção do que aquilo que aprende com imposições de deveres, regras ou tarefas escolares. A escola, infelizmente, não percebeu a validade dessa informação didática.

As relações entre linguagem oral e escrita são, na verdade, o primeiro passo para o trabalho eficaz, no ambiente escolar, para aquisição e desenvolvimento da leitura.

O que é a escrita senão o espaço material, objetivo, concreto, real, visível de expressão e representação da fala, da linguagem oral? Minha pergunta, na verdade tem uma resposta contumaz: a escrita busca no reino da fala a sua expressão material.

As crianças, desde cedo, devem perceber que há uma relação muito estreita entre fala e escrita.

A escrita é o esforço cultural e civilizatório do homem de representar, através de sua percepção visual, os sons da fala, da sua expressão oral. A alfabetização não vem apenas do olhar, mas da escuta ativa dos sons da fala.

A boa alfabetização não viria, pois, a rigor, nem se justificaria mesmo, com cartilhas de ABC, mas com a expressão oral: isto é, defendo aqui que a alfabetização escolar se dê inicialmente com os sons da fala, uma alfabetização fonológica, para, em seguida, transformar-se em alfabetização ortográfica. A fala precede a escrita na vida e na escola, quer queiramos ou não. É um fato lingüístico, mas nem por indução, é lógica para escola e para muitos educadores.

O segundo ponto que considero importante é a formação para consciência fonológica e o domínio das habilidades metafonológicas para o desenvolvimento da leitura fluente.

A consciência fonológica vem com o ensino formal e sistemático da correspondência entre letras e fonemas da língua. Existem mais sons da fala do que letras para representá-los, Daí, a correspondência entre letras e fonemas não ser unívoca, mas equívoca.

Por exemplo, o som /a/ é, em boa parte, na escrita, representado pela letra “a”. O som /b/ (leia-se bê) é representado na escrita pela letra b. Mas, a letra “c” pode representar o som /s/ (leia-se sê) ou o som /k/ (leia-se cá), dependendo do ambiente fonológica. Em casa, a letra “c” representa o som /k/, mas em cebola, a letra “c” representa o som /s/. Ora, isso, sim, que precisa ser bem ministrado pelos docentes e não pode ser ensinado, outrossim, por qualquer pessoa, por uma pessoa sem habilitação e, a rigor, é um rigor exclusivo para um pedagogo com formação lingüística ou para um lingüista com formação pedagógica. Quem pretende ser alfabetizador ou alfabetizadora devem conhecer a fonologia da língua materna, especialmente os fonemas consonantais:

Classificação das consoantes

As consoantes são classificadas de acordo com quatro critérios:

  • 1 - modo de articulação: é a forma pela qual as consoantes são articuladas.Quanto ao modo de articulação, as consoantes podem ser oclusivas ou constritivas.

a- Nas oclusivas existe um bloqueio total do ar.

b- Nas constritivas existe um bloqueio parcial do ar.

  • 2 - ponto de articulação: é o lugar onde a corrente de ar é articulada (lábios, dentes, palato...). De acordo com o ponto onde são articuladas, as consoantes são classificadas em:

a - bilabiais - lábios + lábios.

b - labiodentais - lábios + dentes superiores.

c - linguodentais - língua + dentes superiores

d - alveolares - língua + alvéolos dos dentes.

e - palatais - dorso do língua + céu da boca

f - velares - parte superior da língua + palato mole

  • 3 - função das cordas vocais: se a cordas vocais vibrarem, a consoante será sonora; no caso contrário, a consoante será surda.
  • 4 - função das cavidades bucal e nasal: caso o ar saia somente pela boca, as consoantes serão orais; se sair também pelas fossas nasais, as consoantes serão nasais.

QUADRO DAS CONSOANTES

Consoantes

Papel das Cavidades Nasais

Orais

Nasais

Modo de Articulação

Oclusivas

Constritivas

Fricativas

Vibrantes

Laterais

Papel das cordas vocais

Surdas

Sonoras

Surdas

Sonoras

Sonoras

Sonora

Sonora

Ponto de articulação

bilabiais

p

b

m

labiodentais

f

v

linguodentais

t

d

alveolares

s

c

ç

s

z

r

rr

l

n

palatais

x

ch

g

j

lh

nh

velares

c q

(k)

g

(guê)

Fonte webliográfica: http://www.portugues.com.br/fonetica/fonema/fonema7.asp

Quando as crianças, na faixa de 3 a 6 anos de idade, aprendem os fonemas da língua são levadas, no ensino fundamental, já entre 7 a 14 anos de idade, à consciência fonológica e às habilidades fonológicas. Por exemplo, saber quantas letras e fonemas possui uma palavra ou fazer sua divisão silábica revela muito da capacidade fonológica da criança.

Quem adquire, na idade própria, a consciência dos sons da fala pode relacionar esta habilidade lingüística com a aprendizagem da leitura. O que é ler um texto senão decantar os sons da fala ali, em enigma, na escrita ortográfica?

O trabalho com a consciência fonológica favorece ao ensino da ortográfica. O que é a ortografia senão uma representação, na escrita, dos sons da fala? Portanto, ler ajuda na consciência ortográfica. Grafar bem as palavras ajuda no ato de ler com proficiência.

Por que a escola não alcança essa consciência da língua e de sua estreita relação com suas habilidades lingüísticas (leitura, escrita, escuta e fala)?

Nenhum comentário:

Resultados de vídeo para aricelmaliteraturapodcast

literaturapodcast


Aricelma – 18/04/2010
8 min - abril 2010
www.youtube.com

www.youtube.com/literaturapodcastaricelmacibrasil

Material Disponível em: www.youtube.com/literaturapodcastaricelmacibrasil ou na Rádio Aluno: www.onlineradioalunomtc.com

http://blogliteraturapodcast.aricelmaci.com

Podcast disponível em:


http://blogliteraturapodcast.aricelmaci.com


Calendário, Chat da Terra, Links, Sites e Blogs Importantes

« 200720082009 »
JANEIRO
DSTQQSS
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031
1 - Confrat. Universal

FEVEREIRO
DSTQQSS
12
3456789
10111213141516
17181920212223
242526272829
2 - N. Srª dos Navegantes
5 - Carnaval

MARÇO
DSTQQSS
1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
3031
21 - Paixão
23 - Páscoa

ABRIL
DSTQQSS
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
27282930
21 - Tiradentes

MAIO
DSTQQSS
123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031
1 - Dia do Trabalho
22 - Corpus Christi

JUNHO
DSTQQSS
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
2930

JULHO
DSTQQSS
12345
6789101112
13141516171819
20212223242526
2728293031

AGOSTO
DSTQQSS
12
3456789
10111213141516
17181920212223
24252627282930
31

SETEMBRO
DSTQQSS
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
282930
7 - Procl. Independência
20 - Revolução Farroupilha

OUTUBRO
DSTQQSS
1234
567891011
12131415161718
19202122232425
262728293031
12 - N. Srª Aparecida

NOVEMBRO
DSTQQSS
1
2345678
9101112131415
16171819202122
23242526272829
30
2 - Finados
15 - Procl. da República

DEZEMBRO
DSTQQSS
123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
28293031
25 - Natal




Acesse aqui o calendário de 2008

Julho 2008
S T Q Q S S D
« Jun


123456
78910111213
14151617181920
21222324252627
28293031

FONÉTICA E FONOLOGIA

ORTOGRAFIA

MORFOLOGIA

SINTAXE

EXPANSÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA


Maranhão

http://chat03.terra.com.br

Selecione uma sala abaixo:
Salas
Entrar
Visitar
Pessoas
na Sala
Alcantara
0
Bacabal
0
Imperatriz
1
Santa Ines
0
Sao Jose de Ribamar
0
Sao Luiz
0

Livros - Paulo Freire

BAIXE AQUI É SÓ CLICAR NO NOME DO LIVRO

Homenagem a Paulo Freire

A importância do ato de ler

A pedagogia da esperança

Ação cultural para liberdade

Cartas a Guine Bissau

Conscientização

Educação e mudança

Extensão ou comunicação

Medo e ousadia

Pedagogia da indignação

Pedagogia do diálogo e conflito

Política e educação

Professora sim, tia não

Paulo Freire para educadores

Pedagogia da autonomia

Pedagogia do oprimido

Por uma pedagogia da pergunta

Regiões do Brasil

Região Centro-Oeste,

Goiás,Mato Grosso,

Mato Grosso do Sul,Distrito Federal

RegiãoNordeste,

Maranhão,Piauí,Ceará,Rio Grande do Norte

Região Norte

Acre,Amazonas,Roraima,Rondônia

Região Sudeste

Minas Gerais, Espírito Santo

Rio de Janeiro ,São Paulo.

Região Sul

Paraná,Santa Catarina

Rio Grande do Sul.
Novidade Cartão MegaBonus
Peça agora seu cartão megabonus e tenha lucro Real em suas compras
www.precard.com.br
Quer passar no ITA/ IME?
A maior aprovação ITA/ IME/ Fuvest. Material específico Turma ITA/IME
www.livrosdecursinhos.com.br
Converse com a galera
Chat, encontros, amor, romance Apaixone-se agora mesmo!
www.clubKdVc.com.br
Consulta CPF/CNPJ Online
Pendências e Restrições financeiras Protestos e Cheques sem fundo
www.CCFacil.com.br
Oi Toque
Musica toque p/ personalizar celular. Uma Semana Grátis!
Flycell.com.br/Toques
Sobre estes links

http://www.centrorefeducacional.com.br

http://novaescola.abril.com.br/

www.mec.gov.br

www.ufma.br

www.uema.br

www.univima.ma.gov.br

www.educacao.ma.gov.br

http://arianevidaepoesia.blogspot.com


http://ivetildedel.blogspot.com


http://eloizamarinho.blogspot.com


http://afragas3.blogspot.com


http://aricelmaci.blogspot.com


http://mariceiapedagoga.blogspot.com


http://raimundamari.blogspot.com


http://edvoneria.blogspot.com

http://verbenavrs.blogspot.com