A ASCENSÃO DE PAULO HONÓRIO:
UM CAPITALISTA COM TRAÇOS DE SENHOR FEUDAL
Aricelma Costa Ibiapina
Nas primeiras décadas do século XX, exatamente por causa da crise da sociedade rural nordestina, surgem oportunidades para que homens ambiciosos como Paulo Honório, espertos e com capacidade de trabalho possam aventurar-se à condição de proprietários poderosos e respeitados.
Paulo Honório torna-se espetacular, pois, como uma criança abandonada chega a trabalhar como um mouro, até saltar economicamente na vida. Porém este salto dá-se com a conquista da fazenda São Bernardo, simbolizando assim o que é novo, representando então o capitalismo brasileiro. Portanto, sua conquista compõe-se da nova ordem socioeconômica no que se refere a tratar as pessoas como coisas, não permitindo a si mesmo nenhum tipo de sentimento de afetividade, ou seja, tudo que recebe com ternura ou amor procura devolver ou pagar com dinheiro, e tudo que gira em torno dele precisa gerar capital.
A maior contradição de Paulo Honório, apesar de ser como empresário um agente modernizador, é que ele apresenta, nos seus valores, na sua subjetividade e no seu comportamento traços de um primitivo senhor patriarcal. Por seus traços primitivos e patriarcalistas, atua com brutalidade no plano das relações pessoais.
Carrega como marca pessoal o modelo social que representa o grande proprietário, inflexível, dominador, autoritário. É pertencente a uma realidade agrária pré-capitalista e ele vive em meio a uma confusão incompreensível. Nutre também um ciúme doentio por Madalena sua esposa decorrente de seu primitivismo, e não de uma paixão enlouquecida, ou seja, sente-se inferior e tem certeza de que é rude e que sua esposa é diferente, sofisticada, tem idéias excêntricas e tem muita atenção por todos os trabalhadores de São Bernardo.
Paulo Honório descobre sua falência como ser humano, como se fosse um monstro ao afirmar: "Sou um aleijado. Devo ter um coração miúdo, lacunas no cérebro, nervos diferentes dos nervos de outros homens. E um nariz enorme, uma boca enorme, dedos enormes.
Se Madalena me via assim, com certeza me achava extraordinariamente feio.
Fecho os olhos, agito a cabeça para repelir a visão que me exibe essas deformidades monstruosas." Ele não pertence nem à velha ordem patriarcal nem à nova ordem capitalista, por isso que rejeita e não compreende a Revolução de 30 que significava o triunfo das forças modernizadoras sobre a antiga estrutura agrária. Mesmo tendo conseguido recuperar São Bernardo, ele não se sente realizado, manifestando assim seu fracasso no seu dia a dia, pois nem conseguia dormir devido a tantas lembranças que o atormentavam dentro de sua consciência, esperando então apenas a fadiga para lhe adormecer.
*Texto apresentado na disciplina Literatura Brasileira III, sob a responsabilidade da professora Kátia. UEMA - 2006
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